Complexo de vira-lata é a pqp!
Abro o jornal de hoje e leio estupefato a
manchete do Caderno 2 (OESP), quase um orgasmo "pigueano":
"Escritor critica desigualdade no Brasil em abertura de feira".
Trata-se, em primeiro lugar, do escritor Luiz Ruffato e a feira é a feira do
livro de Frankfurt, na Alemanha, em que o Brasil é o homenageado da vez.
Ah, que beleza! Que alegria do PIG e dos
demais imbecis que aplaudiram de pé - alemãozada "civilizada" -
quando o tal escritor desfilou uma série de dados que você encontra no google
sobre a situação de desigualdade do Brasil; sobre a história de
"estupros" que deram origem à miscigenação e a tantas outras misérias
de nosso País periférico, pobre, bárbaro, com gente que só sabe pensar em
futebol, carnaval e praia!
Não sou fã do Nélson Rodrigues (motivos,
aqui, não interessam), mas não pude deixar de recorrer à sua frase - que é
muito boa: "complexo de vira-lata", para definir o que o brasileiro
pensa e sente em relação aos "avançados" e "civilizados"
países europeus.
Ora, senhor Luiz Ruffato, mostrar a bunda
para os outros não é absolutamente nenhum grande feito, principalmente quando
esses outros têm a bunda muito mais suja do que a nossa. Temos, sim, nossas
mazelas; temos, sim, pobreza; temos, sim, desigualdade social; temos, sim,
violência; temos, sim, corrupção e muitas, muitas outras coisas de que nos
envergonhar. Como todos os povos já tiveram, ou ainda têm. Mesmo os mais
"civilizados", como a Alemanha e os alemães que o aplaudiram.
Não temos em nosso currículo de nação
nenhuma grande guerra de massacre de milhões e milhões de seres humanos, como a
que promoveu a "civilizada" Alemanha, há pouco mais de sessenta anos.
A nossa guerra do Paraguai - que me envergonha profundamente (a você, não?) - é
fichinha em relação às duas grandes guerras europeias.
Não temos em nosso currículo de nação um
histórico tão imenso de atrocidades cometidas em nome da civilização, da
religião, da fé, da união de condados em países; em nome de conquistas e
imposição de sua "civilização" a povos "bárbaros" de todos
os cantos do mundo, da América à Ásia, passando pela África, o continente que
ainda ressoa em guerras tribais toda a miséria imposta pelos civilizados
europeus.
E mais, senhor Ruffato: a nossa
miscigenação construída, como o senhor disse, de estupros de índias e negras,
por acaso foi obra de quem, se não do "civilizado" europeu que aqui
aportou com suas armas e seus arsenal de fé e atrocidades?
E mais, senhor Ruffato: as nossas
diferenças sociais - por todos lamentada e por todos reconhecida - é fruto se
não de uma política aqui imposta há quinhentos anos pelo "civilizado"
europeu, que não teve nenhuma dúvida em nos explorar e nos espoliar e nos
deixar como herança - pesada herança - esses quinhentos anos de concepção
política e social de desigualdade e escravismo em nome de um capitalismo selvagem
que, diga-se de passagem, não fomos nós que o inventamos.
Então, senhor Ruffato, diante de tudo isso,
e muito mais coisas que poderia dizer, o senhor vai lá e faz o papelão que todo
europeu deseja que façamos: o de imputar a nós mesmos as causas de nossas
misérias, tirando de seus ombros "civilizados" toda a culpa e toda a
responsabilidade. Claro que, por isso ao aplaudiram longamente!
Senhor Ruffato, o senhor é um perfeito
idiota das obviedades europeias que o senhor enumera como sendo os nossos
pecados maiores. O senhor se esquece de que está justamente contribuindo para a
arrogância dessa gente que nos olha como se fôssemos, nós, os bárbaros que andamos nus em florestas
tropicais, os únicos responsáveis por nossa história, construída através da
invasão deles, dos europeus, que para aqui trouxeram toda essa miséria de que
ainda não nos livramos, mas de que estamos a caminho de sacudir e dar a volta
por cima.
Prezado Isaias, somente hoje me deparei com seu comentário. A Internet é assim mesmo, tanta informação que muitas vezes chegamos um pouco atrasados, mas melhor atrasado do que nunca. Parabéns pelo seu texto, mandar LAMBER SABÃO se mostra terapêutico, como qualquer bom PQP.
ResponderExcluirMarcus Salvatore