quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Luiz Ruffato, escritor







Complexo de vira-lata é a pqp!

Abro o jornal de hoje e leio estupefato a manchete do Caderno 2 (OESP), quase um orgasmo "pigueano": "Escritor critica desigualdade no Brasil em abertura de feira". Trata-se, em primeiro lugar, do escritor Luiz Ruffato e a feira é a feira do livro de Frankfurt, na Alemanha, em que o Brasil é o homenageado da vez.

Ah, que beleza! Que alegria do PIG e dos demais imbecis que aplaudiram de pé - alemãozada "civilizada" - quando o tal escritor desfilou uma série de dados que você encontra no google sobre a situação de desigualdade do Brasil; sobre a história de "estupros" que deram origem à miscigenação e a tantas outras misérias de nosso País periférico, pobre, bárbaro, com gente que só sabe pensar em futebol, carnaval e praia!

Não sou fã do Nélson Rodrigues (motivos, aqui, não interessam), mas não pude deixar de recorrer à sua frase - que é muito boa: "complexo de vira-lata", para definir o que o brasileiro pensa e sente em relação aos "avançados" e "civilizados" países europeus.

Ora, senhor Luiz Ruffato, mostrar a bunda para os outros não é absolutamente nenhum grande feito, principalmente quando esses outros têm a bunda muito mais suja do que a nossa. Temos, sim, nossas mazelas; temos, sim, pobreza; temos, sim, desigualdade social; temos, sim, violência; temos, sim, corrupção e muitas, muitas outras coisas de que nos envergonhar. Como todos os povos já tiveram, ou ainda têm. Mesmo os mais "civilizados", como a Alemanha e os alemães que o aplaudiram.

Não temos em nosso currículo de nação nenhuma grande guerra de massacre de milhões e milhões de seres humanos, como a que promoveu a "civilizada" Alemanha, há pouco mais de sessenta anos. A nossa guerra do Paraguai - que me envergonha profundamente (a você, não?) - é fichinha em relação às duas grandes guerras europeias.

Não temos em nosso currículo de nação um histórico tão imenso de atrocidades cometidas em nome da civilização, da religião, da fé, da união de condados em países; em nome de conquistas e imposição de sua "civilização" a povos "bárbaros" de todos os cantos do mundo, da América à Ásia, passando pela África, o continente que ainda ressoa em guerras tribais toda a miséria imposta pelos civilizados europeus.

E mais, senhor Ruffato: a nossa miscigenação construída, como o senhor disse, de estupros de índias e negras, por acaso foi obra de quem, se não do "civilizado" europeu que aqui aportou com suas armas e seus arsenal de fé e atrocidades?

E mais, senhor Ruffato: as nossas diferenças sociais - por todos lamentada e por todos reconhecida - é fruto se não de uma política aqui imposta há quinhentos anos pelo "civilizado" europeu, que não teve nenhuma dúvida em nos explorar e nos espoliar e nos deixar como herança - pesada herança - esses quinhentos anos de concepção política e social de desigualdade e escravismo em nome de um capitalismo selvagem que, diga-se de passagem, não fomos nós que o inventamos.

Então, senhor Ruffato, diante de tudo isso, e muito mais coisas que poderia dizer, o senhor vai lá e faz o papelão que todo europeu deseja que façamos: o de imputar a nós mesmos as causas de nossas misérias, tirando de seus ombros "civilizados" toda a culpa e toda a responsabilidade. Claro que, por isso ao aplaudiram longamente!

Senhor Ruffato, o senhor é um perfeito idiota das obviedades europeias que o senhor enumera como sendo os nossos pecados maiores. O senhor se esquece de que está justamente contribuindo para a arrogância dessa gente que nos olha como se fôssemos, nós,  os bárbaros que andamos nus em florestas tropicais, os únicos responsáveis por nossa história, construída através da invasão deles, dos europeus, que para aqui trouxeram toda essa miséria de que ainda não nos livramos, mas de que estamos a caminho de sacudir e dar a volta por cima.

Que papelão, senhor Ruffato! Que papelão! Jogar para a torcida do PIG em evento internacional é o mesmo que, como já disse acima, mostrar a nossa bunda para quem a tem ainda muito, muito mais suja do que a nossa. Por tudo isso, senhor Ruffato, só me resta dizer que sua língua - de escritor, infelizmente - não nos representa e que o senhor devia, para melhora sua percepção do momento por que passamos - deixá-la um pouco mais limpa. Para isso, acho que o senhor devia, mesmo, é ir LAMBER SABÃO!

Um comentário:

  1. Anônimo3.4.14

    Prezado Isaias, somente hoje me deparei com seu comentário. A Internet é assim mesmo, tanta informação que muitas vezes chegamos um pouco atrasados, mas melhor atrasado do que nunca. Parabéns pelo seu texto, mandar LAMBER SABÃO se mostra terapêutico, como qualquer bom PQP.

    Marcus Salvatore

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